quinta-feira, 29 de abril de 2010






eu gosto é do silêncio,
eu gosto é do distinto.





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Acordei bemol
Tudo estava sustenido

Sol fazia
Só não fazia sentido

(Leminski, Paulo)

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Leonardo e Arthur

amados!
esse sorriso pertence a meus dois amigos banguelas da Biblioteca.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

"Toco tu boca, con un dedo toco el borde de tu boca, voy dibujándola como si saliera de mi mano, como si por primera vez tu boca se entreabriera, y me basta cerrar los ojos para deshacerlo todo y recomenzar, hago nacer cada vez la boca que deseo, la boca que mi mano elige y te dibuja en la cara, una boca elegida entre todas, con soberana libertad elegida por mí para dibujarla con mi mano por tu cara, y que por un azar que no busco comprender coincide exactamente con tu boca que sonríe por debajo de la que mi mano te dibuja."


Cortázar, Julio. Rayuela, capitulo 7

terça-feira, 20 de abril de 2010

Devaneio Poético

[a postagem é grande, mas enfim. lá vai]


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Poética
Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente protocolo e [manifestações de apreço ao Sr. diretor.

Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário o cunho vernáculo de um vocábulo.
Abaixo os puristas

Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis

Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja fora de si mesmo.

De resto não é lirismo
Será contabilidade tabela de co-senos secretário do amante exemplar com cem modelos [de cartas e as diferentes maneiras de agradar às mulheres, etc.

Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbedos
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
O lirismo dos clowns de Shakespeare

- Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.
BANDEIRA, Manuel. Bandeira de bolso: uma antologia poética. Porto Alegre, L&PM, 2008. Pág. 74 - 75.

Meu encontro com Manuel Bandeira deu-se em uma prova na escola, aos meus 16 anos. Durante o colegial encontrava-se em mim um desejo quase incontrolável de vida, de mudança e uma enorme confusão entre o belo e o triste da realidade humana. Não me contentava em aceitar regras impostas, questionava a mim e às pessoas o porquê de ter de aceita-las. Não aceitava o simples viver, o estudar o que todo mundo estuda para ser alguém com mais dinheiro ou alguém “melhor”. Buscava a essência do mundo, do ser, e de mim mesma.
Entre uma questão e outra da avaliação, deparei-me com aquele poema, estridente a meus olhos, e a identificação foi imediata. Os versos, as palavras, todas respondiam ao meu sentimento – digamos – inconformado e efervescente por mudanças. A crítica feita no poema, com evidencia às regras que transformaram a arte em ato burocrático, com livro de ponto expediente e protocolo e manifestações de apreço ao Sr. Diretor me chamou a atenção. Nada podia ser mais ridículo e contraditório do que interromper a emoção de, ao ler o poema, buscar pelo cunho vernáculo de um vocábulo e ir correndo atrás do dicionário para resolver a duvida - a falta de, simplesmente, sentir o escrito e identificar-se, ler-se. Não me bastava a contradição do purismo linguístico com os fundamentos líricos, onde a individualidade e a liberdade é a mais forte razão de ser.
Liberdade.
É o desabafo que encontro no último trecho do poema, do querer o lirismo dos loucos, dos bêbados, o lirismo difícil, doloroso, porém, o lirismo verdadeiro dos bêbados! Os clowns irônicos e divertidos de Shakespeare. O não querer qualquer coisa que não fosse a libertação de todas as coisas que se devem querer. O meu querer se encontrava com os “quereres” de Manuel Bandeira. O meu querer podia se ler nos quereres do Manuel. A busca pela libertação aos conteúdos humanos dele ajudava-me a encontrar e despertar o meu desejo de libertação. O de ser, o de viver. Tão simples como poder dizer as palavras era transformá-las em ação.
A explosão de estar farto, a ironização múltipla do lirismo bem comportado, obediente, cansado, esgotado e debilitado. A minha súbita e estrondosa fragmentação da necessidade de gritar para o mundo os desejos e ânsias que viviam trancafiadas dentro de meus pensamentos, nos meus 16 anos, ao ler o poema, Bandeira o fez por mim.
Poética se encontra no primeiro livro modernista do Bandeira, Libertinagem, uma sucessão de poemas espantosos, cheios de novidades, humor, erotismo, refinamento musical, assim como o que é produzindo em mim, a cada ano; uma (re)conquista com intensidades diferentes, porém, o mesmo sentimento, a mesma surpresa. A cada ano, Poética ajuda a renascer em mim desejos de mudança, de fazer diferente e me fazer criar forças para permanecer essa ideia de não aceitar o que é igual dentro de mim.